domingo, 31 de julho de 2011

ESCRAVOS DA MODERNIDADE

Tema como este, abordado até mesmo em telenovelas, revela o drama de pais e mães os quais quase sempre vivem no limite de suas possibilidades econômicas. Sua grande dor é manifestada em função dos caprichos imputados por uma sociedade resultante de um sistema baseado na propaganda, consumo e aparências.
Esses pais, massacrados, até chegam a mudar seus hábitos alimentares, estão decididos a fazer o melhor, por isso lutam e seus principais objetivos tem como alvo o benefício de seus filhos.

Ao longo dos tempos a sociedade familiar tem passado por vários estágios.
Não podemos precisar qual destes foi o melhor. Partindo-se do ponto de vista da manutenção desta célula sagrada, o que se percebe hoje é uma situação no mínimo inusitada. Estou me referindo à realidade vivenciada por uma grande massa que constitui a sociedade brasileira.
Apesar dos esforços governamentais, mediante suas políticas públicas de erradicação da pobreza, o número de famílias desestruturadas economicamente e, por consequência emocionalmente é astronômico. Segundo algumas pesquisas amplamente divulgadas pelos profissionais de imprensa o nível de endividamento até supera o patamar dos 50%.
Um dos motivos causadores de muita luta e abdicação de benefícios próprios em função dos filhos decorre não apenas devido a grandiosa bondade dos pais em satisfazer exigências, mas também de uma conjuntura política. 
O sistema é perverso. Um reflexo é direcionado para uma sociedade adolescente e até, numa faixa etária maior, onde pessoas acima de vinte anos, sufocam seus pais buscando satisfação por meio da aquisição de itens de consumo. 
Por outro lado, analisando os interesses desses filhos, notamos uma grande preocupação desses jovens, pois querem estar bem apresentados, impecavelmente, segundo os ditames e modismos inspirados pelas atitudes e posição social também consumistas de seus colegas. Sentem-se pressionados e repassam a seus responsáveis (pais) a mesma pressão, porém potencializada pela revolta e incapacidade financeira, mas tudo ocorre de forma involuntária. 
Cada um deseja manter-se em destaque e, em função disso, são vítimas da força apelatória da propaganda e concorrência acirrada.
Em casos específicos brasileiros, pode-se notar uma variação profunda quando compara-se esta sociedade familiar atual com a sociedade familiar antecessora ao século XX. Condições precárias são as mais diversas. A começar pelos sofrimentos, verdadeiros massacres ocasionados pelas influências da era escrava, “mandava quem podia e obedecia quem tinha medo”, até se chegar aos conceitos atuais. Hoje a liberdade de expressão, assim como a sexual marca uma nova era.
O grande número de separações conjugais, até parece um mercado onde tudo funciona por meio de contratos temporários.
O desenvolvimento da comunicação, expressa pelos diversos meios, o grande número de informações disponíveis e a propaganda, deram lugar a uma verdadeira batalha em terra de ninguém. É um salve-se quem puder, “é a lei da selva”. 
Os oportunistas de plantão, responsáveis por um sistema baseado na troca de favores e no quem dá mais, fazem a festa. 
A cada momento surgem novas unidades de créditos financeiros e, por conseguinte o aumento no endividamento das famílias que não conseguem estruturarem-se de forma planejada.
É comum alguns adolescentes quererem realizar seus desejos. Como não dispõem de uma renda mensal e o mercado de trabalho é restrito, além do mais exige-se qualificações e aperfeiçoamentos, essa situação acaba gerando sobrecarga para os pais. Estes, recebem essa carga como um compromisso premente. Passam a financiar a compra do que não podem. Tudo em nome de uma sociedade materialista e consumista. Este pode ser um dos fatores mais frequentes que contribuem para o desencadeamento de uma pressão financeira e psicológica nesses pais (escravos), responsáveis pela criação e educação de seus filhos. 
Como se não bastasse, tal situação ocasiona também depressão em todos os integrantes da célula familiar, pois em vários momentos, os desejos não poderão ser realizados por falta de condições financeiras.
É muito comum a existência de pais endividados, enclausurados em suas residências, sem qualquer opção de lazer, uma vida tendente a vegetabilidade.
Tudo isso, na maioria das vezes, após uma vida de sacrifícios e agora, quando deveriam desfrutar de uma vida mais tranquila sentem-se na obrigação de doarem-se só com o intuito de manter os caprichos de seus filhos que tanto os amam. 
Os filhos, por sua vez, sentem-se humilhados com a possibilidade de fracasso. Isso fica evidente quando não conseguem acompanhar os padrões de seus colegas, estes que insistem em se mostrarem, para afirmarem-se como pessoas realizadas, mesmo sendo apenas aparências. Não sou contra a utilização das redes sociais, acho até que é mais um veículo de comunicação importantíssimo, efetivamente relacional, mas percebo que essa rede reforça essa temática quando cada um tenta massagear seu próprio ego demonstrando situações aparentes de "SUCESSO" - pura ilusão. A bola de neve só cresce e as frustrações também. Penso que é preciso ter os pés no chão e não cair em depressão, pois isto não levaria a nada, pelo contrário só pioraria o quadro. Vislumbro, como caminho, inspirar-se em objetivos concretos, definição de metas exequíveis. Continuar se esforçando, se qualificando para esperar o momento certo quando triunfará. Sim, apesar de tudo, quando se deseja ardentemente algo, agindo para alcançar os objetivos é sempre possível triunfar.
Levanto agora algumas questões reflexivas, certamente polêmicas: Diante de toda esta problemática será que existem culpados? Será que existe uma luz no fundo do túnel capaz de estabilizar estruturalmente esta sociedade?

Jorge Oliveira